A queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não veio acompanhada da piora do “índice de miséria”, métrica que leva em conta a inflação e a taxa de desemprego. A percepção negativa ocorre num momento em que 110 milhões de pessoas, metade da população, recebem um cheque do governo, seja pelos gastos com os servidores públicos e previdência, seja pelos programas sociais.
“Parece algo estrutural do governo Lula que cria uma competividade para a mudança de governo dele”, disse Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, em evento com a Icatu Seguros.
Stuhlberger não espera uma desaceleração acelerada da atividade, até porque o governo continua lançando mão de estímulos, a exemplo do novo crédito consignado privado, que futuramente deverá ser garantido com recursos depositados no FGTS.
“Vai ser um número imenso, começou há dez dias e já tem R$ 2,5 bilhões, e banco grande ainda está leve nisso, pode ir para R$ 100 bilhões, R$ 150 bilhões.” O gestor acredita que o governo vai tirar muito mais medidas da cartola a fim de vencer a eleição de 2026. Ele dá como certo o aumento do Bolsa Família para os R$ 700 no ano que vem.
O que pode mudar este cenário de agravamento do déficit público, a seu ver, seria uma derrota do PT nas urnas. E se o governador de São Paulo, Tarcício de Freitas (Republicanos), for candidato, poderia até haver um forte rali no preços dos ativos. Mas é difícil ter uma ideia de quanto o mercado embute isso nos preços de hoje. Por mais que o ex-presidente Jair Bolsonaro possa ter em Tarcísio sua melhor cartada – poderia até negociar um indulto -, se estiver solto provavelmente ele vai querer lançar um dos filhos para manter seu legado.
Aos olhos de hoje, a melhor aposta em Brasil é nas Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), com vencimento em 2030, porque o país “não quebra até lá”, afirmou Stuhlberger. A questão é saber quanto vale o papel com o PT no governo ou um outro mandatário. Se for Tarcísio, ele acha que as taxas, hoje na casa dos 7,8%, 7,9%, podem recuar para 6%, resultando em grande ganho de capital para o investidor.
“Na hora que entra com teto de gastos, o juro real desaba (…) me parece, pelas condições, apesar de um CDI apetitoso, que lentamente ter uma posição aplicada em Bs [NTN-B] parece ser uma boa estratégia.”
Até 2026 é de se esperar muita emoção e vaivéns do mercado com os investidores mais posicionados em ativos brasileiros. “A gente não aguenta no Brasil mais um governo do PT por quatro anos sem sofrer uma ‘argentinização’, mesmo que num grau menor.”
O melhor momento das contas externas brasileiras ficou para trás e mesmo com juros altíssimos não dá para esperar valorização cambial expressiva a ponto de o dólar voltar a ser negociado na casa dos R$ 5, segundo Stuhlberger.
O déficit em conta corrente, que chegou perto de 1% do PIB, piorou, passando para a casa dos 3%, igualando-se ao investimento estrangeiro direto. “O que vem piorando de maneira vertiginosa é a balança de serviços novos, caso de telecomunicações, streaming, armazenamento [de dados] em nuvem, apostas e até bitcoin, um fluxo que saiu de 0,4% do PIB para 1,7% e segue crescendo”, apontou o gestor.
“A situação cambial é ok, mas não é maravilhosa, não é um dólar para R$ 5”, afirmou. “Temos a vantagem de juros altíssimos, com R$ 2 trilhões em títulos isentos – que não param de crescer, todo mês tem R$ 20, R$ 30 bilhões em emissões novas – e o mercado está indo para isso. É o que segura o dinheiro do brasileiro em reais, não há saída de capital do Brasil, mesmo com a situação de dívida insustentável com o governo do PT.” O retorno dos juros é bom e o do isento melhor ainda.
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Fonte: Valor