O cenário de protecionismo gerado pelas tarifas comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criou um cenário de riscos, mas também de oportunidades que podem ser exploradas pelos mercados brasileiros, avalia o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.
“Esse tarifaço foi unilateral, sem nenhuma negociação prévia ou consideração das instituições multilaterais de comércio, gerou uma grande instabilidade econômica e financeira, inclusive no próprio mercado americano, na dívida pública, taxas de juros e moeda, que se estendeu a toda a economia global”, disse nesta quinta-feira (10) a jornalistas, após seminário sobre cooperativismo na sede do BNDES, no Rio.
“É seguro que esse processo vai trazer alguma pressão inflacionária para todos os países, um choque externo global e vai atrasar investimentos”, completou Mercadante. Em seguida, ponderou que o processo “improvisado”, com suspensões das tarifas, amenizou o tensionamento.
Trump anunciou ontem uma pausa de 90 dias na cobrança de tarifas em todos os países que não retaliaram os EUA na guerra comercial iniciada por ele. A medida não vale para a China, cujos produtos importados pelos americanos tiveram sucessivas elevações das taxas, que chegavam a 145% no começo desta tarde.
“Essa confrontação comercial dos Estados Unidos, que o governo Trump estabeleceu com a China, vai trazer muita segmentação, porque as duas economias juntas representam quase metade do PIB mundial. Então, quando você gera uma barreira ao comércio e as cadeias produtivas são integradas, gera muita tensão”, acrescentou Mercadante.
O presidente do banco de fomento destacou ainda que o Brasil e a América do Sul foram relativamente preservados nesse primeiro momento, mas que é preciso acompanhar como a conjuntura evolui. Por outro lado, destacou que há também oportunidades.
“Esse cenário de instabilidade traz riscos, nós temos que estar muito atentos, mas traz também oportunidades. Por exemplo, para a agricultura e para pecuária brasileira. Eu avalio que o Brasil vai ter mercados que vão se abrir com muito mais velocidade, porque os Estados Unidos são um concorrente nesse segmento”, declarou.
Mercadante destacou ainda que o México e o Canadá já estão buscando outras relações comerciais e que o Brasil precisa se aproximar. Na avaliação dele, a União Europeia também vai se aproximar do Sul Global, do Brics, com novas pontes estratégicas.
“Nós vamos ter a reunião do Brics agora em julho. Eu acho que é uma grande oportunidade, porque é mais da metade do PIB mundial que estará reunido, com países que podem criar laços de solidariedade, de parceria e de integração.”
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Fonte: Valor