Eu sou a Clau, mulher negra e, muito além disso, sou mãe. Recentemente, a Netflix lançou uma produção de Tyler Perry, Até a Última Gota, que conta a história de Janiyah, uma mãe solo, negra, moradora de uma região carente nos Estados Unidos. O longa me fez refletir sobre a maternidade e os desafios de ser uma mãe negra.
Ao assistir ao filme, vi muitas mulheres que conheço refletidas nela. Diferente da personagem interpretada por Taraji P. Henson, eu tenho minha casa, um marido, um filho saudável e não tenho do que reclamar. No entanto, este filme fala sobre uma grande parcela de mulheres que precisam, diariamente, batalhar para ter o mínimo e equilibrar todos os pratos para se manter em pé — e manter os seus também.
Se você ainda não assistiu ao filme, recomendo que o veja antes de continuar a leitura, pois este texto pode conter leves spoilers. Ainda assim, saiba que, mesmo lendo antes, você provavelmente irá se surpreender com a trama.

Foto: Até a Última Gota (Netflix)
Para quem já assistiu, provavelmente foi impossível não chorar ou sentir uma angústia a cada momento da história. A protagonista, Janiyah, vive um dia péssimo, mais do que o habitual, precisando manter o emprego, cuidar da casa e garantir que a filha esteja confortável na escola. E, além disso, ainda enfrenta acusações, agressões físicas e verbais, além do racismo.
Mesmo sendo uma mulher guerreira, batalhadora (algo que ouvimos com frequência sobre mulheres negras), ela ainda é um ser humano e não aguentou. E aí está a questão: isso foi em um filme. Mas, na vida real, o que acontece quando a corda está por um fio e não há um ombro amigo, uma rede de apoio?
A sociedade, muitas vezes, nos impõe a ideia de que mães precisam ser inabaláveis, que a força é uma obrigação e que qualquer dificuldade representa uma falha individual — como se toda a responsabilidade recaísse exclusivamente sobre os ombros da mãe. O filme nos mostra o que acontece quando essa pressão se torna insustentável, quando tudo foge do controle. Janiyah se torna um espelho da exaustão silenciosa de tantas mulheres.

Foto: Até a Última Gota (Netflix)
A narrativa também revela (e precisamos reforçar isso em nosso meio) mulheres se apoiando e se identificando umas com as outras. Janiyah só conseguiu sair do banco em segurança graças a outras duas mulheres negras, cada uma com suas vivências, mas que sentiram na pele o sofrimento e estiveram ao lado dela. Entenderam sua história e estenderam as mãos. E é exatamente isso que pouco vemos nas ruas, nas amizades e nas redes sociais.
Muitas vezes, o que presenciamos são mulheres atacando mulheres, julgando suas maternidades e relacionamentos sem conhecer o que acontece dentro de suas casas. Falta empatia, falta se colocar no lugar da outra.
O filme nos confronta com uma realidade dura: o que acontece quando a rede de apoio falha? Quando a sociedade, em vez de acolher, julga? A história de Janiyah é um lembrete pungente de que a maternidade — especialmente a maternidade solo e negra — não é uma jornada que deve ser percorrida sozinha.
Precisamos nos perguntar: como podemos construir comunidades mais solidárias? Como podemos oferecer um ombro amigo, um ouvido atento, uma ajuda prática, antes que o desespero se instale? O “surto de realidade” de Janiyah não é um evento isolado, mas um eco das pressões invisíveis que muitas mães enfrentam diariamente. É um chamado para que olhemos para as mulheres ao nosso redor — vizinhas, amigas, colegas — e nos perguntemos: como posso ser parte da solução, e não do problema?
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Fonte: Steal the Look