Veja o valor da gasolina durante o governo Lula | Brasil

O preço da gasolina depende de fatores naturais, econômicos, políticos e de infraestrutura. No Brasil, donos de carros e veículos movidos ao combustível viram o preço médio da gasolina revendida nos postos de abastecimento aumentar cerca de 24% de janeiro de 2023 a abril de 2025.

De acordo com a Petrobras, a gasolina brasileira tem a incidência de impostos federais (CIDE e PIS/COFINS) e estadual (ICMS), além do custo provocado pelo acréscimo obrigatório de etanol anidro, um tipo de álcool que reduz a emissão de poluentes causados pela queima de combustíveis e que ajuda na resistência da gasolina à pressão do motor.

Há, ainda, o preço estabelecido por cada distribuidor e revendedor, o que altera o valor que o consumidor final paga.

Com Lula, o preço da gasolina aumentou ou caiu?

Veja a variação dos preços da gasolina mês a mês desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

A tabela mostra que os preços subiram desde janeiro de 2023. Adriano Pires, economista e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), comenta que, com a volta do governo Lula, houve uma alteração de praxe na política de controle de preços da Petrobras, o que influencia “a contenção ou os atrasos no repasse dos preços internacionais ao mercado interno”.

Com isso, no governo “Lula III”, o presidente propõe o que ele mesmo chama de “abrasileiramento” dos valores da gasolina e dos demais combustíveis, o que significa que ele intervém na política de preços da Petrobras, mas também dá liberdade para a empresa precificar de acordo com critérios internos, uma estratégia comercial pouco transparente ao mercado e ao público consumidor.

É importante ressaltar que, somado a esse fator, houve o aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) cobrado e definido por cada estado brasileiro, o que também eleva o valor do combustível.

Pires alega que a alta da gasolina pressiona o orçamento dos usuários de carros particulares, principalmente dos que vivem em regiões de difícil acesso.

“Qualquer aumento do preço do derivado [do petróleo, como a gasolina ou diesel], é sentido diretamente pela população, o que pesa fortemente em suas avaliações sobre a administração responsável, sendo um fator decisivo na popularidade de governantes”, disse Pires.

Comparação com os governos Lula I e II, Dilma, Temer e Bolsonaro

O gráfico acima mostra que os dois primeiros mandatos de Lula apresentaram um grau de estabilidade no preço médio da gasolina.

Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), avalia que três dos motivos foram o olhar estrangeiro positivo para a economia do Brasil, a solidez dos preços do petróleo no mercado internacional e o equilíbrio da oferta cambial (o dólar estava mais baixo).

Os preços começaram a subir durante o governo de Dilma Rousseff justamente pelos fatores contrários: a economia mundial estava instável, a política externa estava abalada, o câmbio estava desfavorável para o Brasil e o preço do petróleo aumentou.

Rodrigues lembra que a Petrobras estava em um momento em que precisava comprar petróleo estrangeiro a preços elevados e vender no mercado interno com valores menores para minimizar os danos aos consumidores brasileiros, o que causou prejuízos à companhia.

Já no governo de Michel Temer, a política de redução de intervenção na Petrobras começou a vale, permitindo que a empresa seguisse as regras de mercado internacional e estabelecesse valores de acordo com o Preço de Paridade de Importação (PPI), uma política própria da Petrobras, com base nos cálculos feitos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que teve início em 2026 e fim oficial em 2023 — O PPI levou a um aumento nos preços dos combustíveis, uma das causas da greve dos caminhoneiros, em maio de 2018. O movimento, que culminou na demissão de Pedro Parente da Presidência da Petrobras, conseguiu flexibilizar a fórmula.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, houve aumento exponencial da gasolina devido à pandemia e à decisão oscilante do ex-presidente de intervir ou não na política de preços da Petrobras de acordo com o “calor político”. Quando havia algum conflito durante o mandato, Bolsonaro deixava a função a cargo dos presidentes da Petrobras, que seguiam a política de PPI. Por outro lado, uma das medidas do ex-presidente para baixar os valores da gasolina foi zerar o ICMS, o que gerou desconforto entre os governadores.

“Em qualquer país do mundo, quando os preços sobem, a popularidade do governo e do governante caem na mesma proporção. No Brasil, o presidente usa uma ferramenta política que não deveria usar, mas acaba usando, que é a Petrobras. Os governantes usam o caixa e o poderia da companhia para interferir nos preços e, de alguma forma, segurar os preços, a inflação e os números do próprio governo”, declara Rodrigues.

Quem define o preço da gasolina?

A gasolina é um derivado do petróleo, material orgânico não-renovável extraído do subsolo da terra ou do mar. Pedro Rodrigues explica que o início da precificação da gasolina está nas características do petróleo, que apresenta tipos de maior ou menor qualidade.

Como é uma commodity (um produto primário) global, o preço varia de acordo com o grau API (sigla para American Petroleum Institute), um padrão mundial que mede a densidade do petróleo e, a partir disso, quais produtos leves podem ser derivados dele, como a gasolina.

Rodrigues esclarece que o preço do petróleo é altamente volátil por sofrer influências de condições como:

  • Ambientais – depende da composição natural
  • Geopolíticas – ele dá o exemplo de países que são grandes produtores de petróleo e estão envolvidos em conflitos, como o Irã, além das recentes taxações nas importações de Trump
  • Cambiais – o valor dos barris é cotado em dólar
  • Econômicas – redução do desenvolvimento econômico de um país associada à pressão do mercado

“O Brasil está inserido no mercado global de petróleo, não é o mercado global que está inserido no Brasil. O preço é global, não é a gente que taxa”, pontua o sócio do CBIE.

Apesar de ter um petróleo de boa qualidade (“é superior porque tem menos enxofre”, diz Rodrigues) e ser bem cotado no mercado internacional, o Brasil produz apenas 4% do total mundial. Por isso, o país ainda é grande importador de produtos refinados, como é o caso da gasolina. O mercado brasileiro precisa importar 10% de gasolina estrangeira para acrescentar aos 90% produzidos localmente e atender à demanda nacional.

Pedro Rodrigues destaca que a Petrobras é o agente dominante no mercado de combustíveis brasileiro. Como a empresa é de capital misto, que, além de estatal – a União é a acionista majoritária –, precisa cumprir com os interesses dos acionistas minoritários do mercado, o que abre espaço para preços livres.

Há, também, poucas refinarias (por volta de 15. Nos Estados Unidos, maior produtor de petróleo do mundo, são cerca de 140) – e antigas – no país, o que “segura” a produção de gasolina e aumenta os custos.

Por fim, não há uma regulação para distribuidores (as empresas que compram os combustíveis e transportam até os pontos de venda) e revendedores (os postos de combustíveis) que limite um teto para o preço da gasolina.

“O mercado dos combustíveis funciona como uma padaria: não há quem diga que um pãozinho deve custar R$ 0,50 ou R$ 2; isso varia de bairro, do preço do trigo… Cada posto de gasolina pode cobrar o preço que quiser”, diz Rodrigues.

Fonte: Valor

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