Zelensky rejeita trégua de três dias proposta por Putin e diz que conversa com Trump no funeral do Papa foi a ‘melhor até agora’ | Mundo

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, rejeitou a proposta de uma trégua de três dias anunciada pelo líder russo, Vladimir Putin, classificando-a como uma “encenação” e indicando que Kiev está pronta para um cessar-fogo completo. A declaração, feita na sexta-feira a um pequeno grupo de jornalistas, foi divulgada neste sábado pelo Gabinete presidencial ucraniano. Durante a coletiva, Zelensky também afirmou que sua conversa com o americano Donald Trump, realizada no Vaticano no mês passado, foi a melhor entre os dois até agora, com ambos discutindo sanções americanas e as defesas aéreas ucranianas.

“Isso é mais uma performance teatral da parte dele”, disse Zelensky sobre o breve cessar-fogo proposto por Putin, que duraria apenas de meia-noite de 8 de maio até a meia-noite do dia 11 de maio. “Porque em dois ou três dias é impossível desenvolver um plano para os próximos passos para acabar com a guerra.”

Moscou afirmou que a trégua, programada para coincidir com a comemoração do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, em 9 de maio, tinha como objetivo testar a “disposição” de Kiev para uma paz de longo prazo, acusando Zelensky de fazer uma “ameaça direta” aos eventos comemorativos da data. Em março, porém, o Kremlin rejeitou um cessar-fogo incondicional de 30 dias proposto pela Ucrânia e pelos Estados Unidos — e desde então tem feito apenas contribuições modestas aos esforços de Trump para negociar o fim da guerra.

Alguns setores da Ucrânia criticaram a trégua como uma tentativa de impedir Kiev de atrapalhar as comemorações do aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial, que terão a presença de líderes estrangeiros em Moscou para assistir a um grande desfile na Praça Vermelha, além de um discurso de Putin. Segundo o Kremlin, cerca de 20 líderes mundiais, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, aceitaram o convite. Zelensky afirmou que Kiev não fará “jogos para criar um clima agradável que permita a Putin sair do isolamento no dia 9 de maio”.

“Nossa posição é muito simples em relação a todos os países que viajaram ou estão viajando para a Rússia no dia 9 de maio. Não podemos assumir responsabilidade pelo que acontece no território da Federação Russa”, disse o presidente ucraniano, afirmando que alguns países entraram em contato com Kiev para pedir garantias de segurança. “Eles (os russos) estão garantindo sua segurança.”

Zelensky também afirmou que a Rússia “pode tomar diversas medidas”, inclusive a de iniciar “incêndios criminosos, explosões e coisas do tipo” para depois culpar a Ucrânia. Embora ele não tenha dito o que as forças ucranianas farão durante o período, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que Zelensky estava “ameaçando a integridade física dos veteranos que irão aos desfiles”.

As declarações ocorrem no momento em que as forças russas têm conquistado avanços difíceis em várias partes da frente de batalha, e enquanto tanto Moscou quanto Kiev intensificam seus ataques aéreos. Também são feitas após os Estados Unidos alertarem que podem abandonar os esforços de mediação por um cessar-fogo se não houver progresso nas discussões. Nesta semana, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Tammy Bruce, disse que Washington está buscando “um cessar-fogo completo e durável, e o fim do conflito”, e não “um momento de três dias para comemorar outra coisa”.

Trump reformulou a política dos EUA em relação à Rússia desde que assumiu a Presidência para seu segundo mandato, em janeiro, iniciando uma reaproximação com o Kremlin. Essa reaproximação culminou em um embate público entre Trump e Zelensky na Casa Branca em 28 de fevereiro, quando os dois líderes deveriam assinar um acordo de minerais que concederia acesso dos EUA a recursos ucranianos em troca de alguma proteção. Desde então, a Ucrânia renegociou o acordo, que agora prevê que Washington e Kiev desenvolvam e invistam conjuntamente em recursos minerais críticos da Ucrânia.

Zelensky afirmou na sexta-feira que o acordo é benéfico para ambos os lados e protege os interesses da Ucrânia — embora o pacto não ofereça garantias de segurança concretas para os ucranianos. O avanço ocorreu após o encontro entre os dois líderes no fim de abril, antes do funeral do Papa Francisco. Ambos os lados descreveram a conversa como positiva, sendo esta a primeira reunião presencial desde o desastroso encontro no Salão Oval. Pouco depois, Trump questionou se Putin realmente queria a paz — sinalizando que está perdendo a paciência com o russo.

“Acredito que tivemos a melhor conversa com o presidente Trump de todas as que aconteceram anteriormente. Talvez tenha sido a mais curta, mas foi a mais substancial”, disse Zelensky, anunciando que reiterou seu desejo de reforçar as defesas aéreas da Ucrânia e que disse a Trump que esperava ter a oportunidade de adquirir armas americanas. “Falei a ele sobre a quantidade, e ele me disse que iriam trabalhar nisso, que essas coisas não são gratuitas. Trump concordou que um cessar-fogo de 30 dias é o primeiro passo certo e que seguiremos nessa direção.”

Donald Trump e Volodymyr Zelensky se reuniram antes de cerimônia fúnebre de papa Francisco — Foto: Ukrainian Presidential Press Office via AP
Donald Trump e Volodymyr Zelensky se reuniram antes de cerimônia fúnebre de papa Francisco — Foto: Ukrainian Presidential Press Office via AP

Fonte: Valor

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